quarta-feira, 24 de maio de 2017

A REGRA DE SÃO BENTO E O ZEN BUDISMO




Nas últimas três semanas compreendi que o cerne da vida monástica é um arquétipo. Surgiu então a questão: o que está no coração dos orientais e dos ocidentais que anseiam e procuram "a unidade", ou o “satori” no Budismo ou na mística Cristã? Não pretendo responder essa pergunta, mas sei que a minha estadia em três mosteiros budistas diferentes nas últimas três semanas mostrou-me que a rotina dos mosteiros asiáticos, não é tão diferente dos mosteiros do ocidente, afora talvez porque nossos irmãos e irmãs japoneses tenham mais disciplina.

No início do livro “Dharma de S. Bento”, lê-se:

Com o quê os budistas se deparam na Regra de S. Bento, se não estão habituados a ela, porque consideram  as "Regras" surpreendentemente familiar? Tem a ver com a ideia de “treliça”. O Dharma é comumente traduzido como "ensino ou lei natural", mas a raiz do significado da palavra em pali ou em sânscrito, significa "apoio, ou aquilo que sustenta". De certa forma, então, o Dharma é uma espécie de “treliça” que comporta o despertar. Tanto a Regra de S.Bento como o Dharma de Buda são, como diz Norman Fisher, "orientações gerais para o caminho interno". Essa é provavelmente a razão pela qual eu encontrei a vida nos mosteiros budistas surpreendentemente familiar. Meu relato, portanto, consistirá em uma série de citações da Regra de S.Bento. Será a "lente" através da qual vou olhar para as minhas próprias experiências aqui no Japão.

Prólogo da Regra de S.Bento:Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: "Já é hora de nos levantarmos do sono". E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações": O argumento "estar desperto" é muito relevante para a tradição Zen Budista.

O Prólogo da Regra: “Estabeleceremos uma escola de serviço ao Senhor.” Fui informada que a maioria dos monges que vivem nos mosteiros Zen Budistas estão lá apenas por um tempo limitado, ficou claro para mim que são pessoas que está em treinamento. Estão sendo formados para exercerem o sacerdócio. Em outras palavras, é diferente dos monges ocidentais que moram num mosteiro por um longo tempo.

Capítulo 5 - Sobre a Obediência: Pois são esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizem respeito e abandonando a própria vontade, desocupando logo as mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo os passos já dispostos para a obediência, a voz de quem ordena. 

Permitam-me um comentário engraçado: na nossa segunda ou terceira noite em Sogen-ji nos juntamos à sangha para o Zazen às 17:30, e estas sessões duram até às 21:00. Naquela noite eu estava cansada, tive um dia cheio e estava muito difícil sentar-se por um longo período de tempo. Eu, portanto, tomei a decisão de deixar o Zendo em um dos intervalos e fui para a cama. Ótima escolha, pensei, enquanto me preparava para dormir. Rapidamente caí num sono profundo quando um de nossos instrutores me acordou, e me informou que eu não deveria deixar o Zendo no meio de um Zazen e que o Roshi voltava em breve; eu deveria estar lá sentada no meu lugar até ele voltar. Houve um momento em que lutei internamente, mas depois voltei ao Zendo. Isso para mim foi um exemplo clássico de obediência, pois renunciei à minha própria vontade.

Capítulo 6 - Sobre o Espírito do Silêncio: Com efeito, falar e ensinar compete ao mestre; ao discípulo convém calar e ouvir.

Em Tenne-ji, não só experimentávamos o silêncio nas refeições ou quando andávamos de um lado para o outro para o Zendo ou para o serviço matutino, também durante o samu da manhã e da tarde. Se estávamos puxando ervas daninhas com dez outras monjas ao nosso lado ou fazendo um projeto de costura todas juntas em um quarto, não houve conversa paralela, exceto o necessário. Em nossa última tarde fomos ao castelo de Gifu em três carros. Houve alguma conversa, mas apenas para fins informativos, como a hora que seria o almoço ou qual seria a hora do banho.

Capítulo 22 – Como devem dormir os monges: Se for possível, durmam todos num mesmo lugar; se, porém, o número não o permitir, durmam aos grupos de dez ou vinte, em companhia de monges mais velhos que sejam solícitos para com eles. Esteja acesa nesse recinto uma candeia sem interrupção, até o amanhecer. Durmam vestidos e cingidos com cintos ou cordas, mas de forma que não tenham, enquanto dormem, as facas a seu lado, a fim de que não venham elas a ferir, durante o sono, quem está dormindo;

Vimos isso com nossos próprios olhos em Tenne-ji. Porque nós três ficamos do lado de fora do Zendo cerca de cinco minutos antes do sino tocar, nós observamos as residentes, tinham ido dormir vestidas, se apressando para ir ao banheiro, lavar os rostos, e vestir o resto do hábito antes de voltar ao Zendo.

Capítulo 48 - Sobre o trabalho manual cotidiano: A ociosidade é inimiga da alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras horas com a leitura espiritual. Pela seguinte disposição, cremos poder ordenar os tempos dessas duas ocupações.

Portanto, as irmãs devem estar ocupadas em certos momentos com trabalhos manuais. São verdadeiramente monjas quando vivem do trabalho de suas mãos. Devo humildemente admitir que, para mim, fazer qualquer trabalho manual durante três horas pela manhã e duas horas e meia à tarde foi um desafio, principalmente físico, mas também um exercício de obediência. No entanto, ao olhar para trás, percebo que aprendi muito sobre mim mesmo, e posso certamente ver os benefícios de fazer algo coletivo em silêncio. A sangha em Tenne-ji é extremamente admirável, fazem projetos em conjunto, constroem o sentido de comunidade. Todos trabalham para a mesma causa, que é a vida em comum. Infelizmente, no mosteiro em que vivi, desistimos de fazer trabalhos manuais juntas. Fazemos algum trabalho manual, mas raramente juntas como uma sangha. Uma das razões, naturalmente, é que somos um grupo muito grande (280), mas acredito que exista uma comunhão espiritual quando envolvidas em um projeto juntas. Estou pensando em algumas de nossas irmãs que trabalham juntas no jardim à noite.



Capítulo 53 - Recepção dos hóspedes:  Logo que um hóspede for anunciado, corra ao encontro do superior ou dos irmãos, com toda a solicitude caridosa; primeiro, rezem em comum e assim se associem na paz. Não seja oferecido esse ósculo da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas.  Nessa mesma saudação mostre-se toda a humildade. Todos os hóspedes que chegam e que saem, faça reverências, com a cabeça inclinada ou com todo o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles. Quando chegamos a Tenne-ji, Shika-san primeiro nos acolheu prostrando-se ao chão, e então, quando toda a comunidade se reuniu, tomamos chá. Quando visitamos Hozumi Roshi, ele acolheu-nos, e nos levou para o seu templo, demorou alguns minutos para mostrar-nos o espaço e, em seguida, nos reunimos no Zendo para o Zazen.

Capítulo 63 - Sobre a Ordem na comunidade: Conservem os monges no mosteiro a sua ordem, conforme o tempo que têm de vida monástica, o merecimento da vida e conforme o Abade constituir.

Parte de nossa estadia em Ten'ne-ji andaríamos e sentaríamos com disciplina. Quem era o mais velho entre nós? Era bastante evidente, tanto em Sogen-ji como em Tenne-ji, quando os monges se sentavam à mesa, por exemplo, é um momento muito importante. Havia uma hierarquia a seguir e respeitar, e as pessoas precisavam ser lembradas disso de vez em quando.

Capítulo 63 (continuação): Em qualquer lugar em que se encontrem os irmãos, peça ao mais moço bênção ao mais velho. Passando um mais velho, levante-se o mais moço e ceda-lhe o lugar, e não presuma o mais moço se assentar junto, a não ser que convide o seu irmão mais velho, a fim de que se faça o que está escrito: "Antecipando-se mutuamente em honra". 



Eu vi dois exemplos disso em Eihei-ji. Uma noite no Zazen testemunhei um monge novato ajudando um monge com idade avançada a se sentar. O monge novato arrumou suas sandálias, e quando o Zazen terminou o jovem monge voltou e ajudou o ancião a calçar suas sandálias. Foi um momento emocionante, como é também quando testemunho esses momentos no mosteiro onde resido. Também observei em Eihei-ji que, se passássemos por monges enquanto caminhávamos, eles se curvavam e faziam "gassho". Embora não façamos isso no meu mosteiro em Minnesota, notei que num mosteiro beneditino de homens no Canadá os monges se curvam quando passavam pelos corredores. Em uma nota pessoal suspeitei que muitas vezes fui ajudada durante estas semanas porque eu era a "com mais idade” em relação aos membros mais novos da comunidade. Vou terminar estas observações e comentários com uma última história. Na conclusão de um serviço matinal em Eihei-ji, jovens monges vieram para a frente para fazer perguntas a Suzuki Roshi, que presidia. Achei as perguntas simples, singelas, como “o que fazer quando se está sonolento durante o Zazen”. Lembrei imediatamente de uma história dos ditos dos primeiros monges cristãos, homens e mulheres, que viveram no deserto egípcio nos séculos IV e V. Com perseverança, muitos deles se tornaram santos e santas. Com o tempo, foram acompanhados por seus discípulos. Seus discípulos chamavam-nos de Abba e Amma e pediam conselhos. Aqui está a história de um bom "conselho": Alguns monges foram até Abba Poemen e lhe disseram: "Quando vemos os irmãos dormindo durante a Liturgia das Horas, como acordá-los para que estejam atentos?" Ele respondeu: "De minha parte, quando vejo um irmão cochilar, coloco a cabeça dele sobre os joelhos e o deixo descansar.” Para concluir, estou convencida de que, nas próximas semanas e meses, enquanto continuar refletindo sobre esta experiência extraordinária, as pérolas se revelarão uma a uma. Em relação a isso aprendi muito sobre a vida em mosteiros Zen Budistas, tenho me aprofundado em meu coração monástico. Volto ao meu mosteiro de origem com renovado vigor, fidedigna à vida a qual fui chamada e ao qual respondo.


O Zen visto através da ótica da Regra de S.Bento 

[1] Dharma de S. Bento: budistas refletem sobre a Regra de S.Bento, ed. Patrick Henry (Riverhead, 2001).


Irmã Hélène Mercier OSB, é monja do Mosteiro Beneditino de São José, Minnesota, é secretária executiva do Conselho da Comissão Norte-Americana de Diálogo Inter-Religioso. Irmã Hélène começou sua vida monástica no Convento Beneditino de Montreal, fundado por Dom John Main.

terça-feira, 23 de maio de 2017

6. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS

O confronto terminou.
Ganhar ou perder já não importam.
Cantarolando músicas campestres dos lenhadores e entoando canções simples de crianças do campo, monta as costas do touro, seus olhos fixos em coisas não da terra, mas do céu.
Mesmo que seja chamado, não virará a cabeça. 
Por mais que seja atraído não voltará mais.

trad. Monja Coen

6. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" de mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que levam ao despertar da consciência.



Na sexta gravura, quando o pastor volta para casa tocando sua flauta alegremente, o cristão que reza a Deus sem distrações encontra seu "lar espiritual" (o reino de Deus) e a paz plena.

“E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. E achando-a, convoca os amigos e vizinhos, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.”

Lucas 15:6-9

“Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.”

João 15:11

Através da experiência contemplativa diligente, o cristão alcança o plano de autodomínio e perfeição.  A prática da perfeição por meio do autocontrole espontâneo, pode ser comparada a “montar no touro sem dificuldade”. Este avanço vem depois de batalhas ardentes em querer apreciar a Deus de modo profundo, em estar consciente da sua Natureza-Buda em cada ação e pensamento. Por meio da sabedoria, a ignorância do praticante é treinada e diluída. Neste "montar o touro", os cristãos devem compreender como o Zen explica o autoconhecimento. Do ponto de vista do Zen, o autoconhecimento é a abertura dos portões do coraçãomente para o reconhecimento dos próprios dons, das disposições e da percepção da sua própria capacidade ilimitada, bem como também das suas fraquezas. O autodomínio significa viver uma vida no presente momento, unida ao “vazio” de um falso “eu”. Além disso, através da experiência da unicidade durante a prática contemplativa, os cristãos têm a oportunidade de compreender que a jornada individual é seguida por dons espirituais, como liberdade e alegria. No entanto, o amor e a alegria não são experimentados como um "lugar espiritual" original, até que se alcance a consciência de Deus. Através da transcendência sob a graça do Espírito Santo, a prática contínua na presença de Deus ajuda o praticante a descobrir o caminho de estar cada vez mais próximo da morada de Deus.



do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das "Dez gravuras do touro e o pastor."

Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.



5. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS



Quando um pensamento surge, outro o segue e depois mais um, muitos pensamentos assim despertam.
Através da iluminação, tudo se torna a verdade.
Caso resida na ignorância, o falso prevalece.
Isso acontece não por causa do mundo objetivo, e sim da mente que engana a si mesma. Não permita que a corda da argola do focinho fique frouxa. Segure-a com firmeza e sem vacilar.

trad. Monja Coen

5. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" de mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que levam ao despertar da consciência.

Na quinta gravura, os cristãos têm a oportunidade de entender o aspecto de "Samadhi". A vigilância [Samädhi] implica no intenso esforço de concentração, particularmente no início. Vigilância é a observação de como os pensamentos acontecem, de que forma surgem, da onde surgem, se do profundo da mente, enquanto buscamos purificá-la e atingir a mente original. “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação”.

do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das "Dez gravuras do touro e o pastor."



Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.



4. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS

Escondido há muito na mata, finalmente encontro o touro e coloca sua mãos sobre ele.
Mas é difícil mante-lo quieto, constantemente saudoso do antigo e doce cheiro do campo.
A natureza selvagem ainda é ingovernável e recusa a se dobrar.
Se quiser manter o touro em completa harmonia, certamente terá de usar o chicote.

trad. Monja Coen

4. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" de mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que levam ao despertar da consciência.

Neste período, a orientação de um mestre capacitado é importante. O chicote do pastor se equipara ao apontamento de um mestre Zen, uma vez que os praticantes nesta fase progridem rapidamente se seguirem as instruções do mestre. Na vida contemplativa cristã, ainda que o praticante possa ser confrontado várias vezes com o touro selvagem e com nevoeiros mentais, ele  tem de se lembrar que isso faz parte do processo de busca da sua verdadeira natureza.

do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das "Dez gravuras do touro e o pastor."

Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.



3. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS


"Através do som, você obtém a entrada.
Pela visão, fica face a face com a origem.
Todos os seus sentidos estão em ordem e harmonia.
Manifesta-se presente em todas as atividades.
É como o sal na água e a cola na tinta.
Ao levantar as pálpebras, descobrira que não há outro além de si mesmo."

trad. Monja Coen

3. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" de mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que levam ao despertar da consciência.

Na terceira gravura, o touro não está mais escondido, o “Eu” do contemplativo lhe revela que Deus também não está mais camuflado, e que é a sua própria essência. Esse fenômeno é o “início da graça”, para usar um termo cristão, que é o retorno à nossa verdadeira natureza, com a mente unida em Cristo. O carisma da autoconfiança é o carisma que a terceira gravura representa, o touro não está mais fora de vista, agora o pastor deve confiar apenas em si mesmo. Torna-se mais determinado em experienciar sua própria natureza. Por meio da confiança em si, o contemplativo encontra Deus em seu interior. O Deus oculto é revelado a ele, como a "origem". O conflito do cristão contemplativo durante os períodos de meditação e oração, muitas vezes é o combate contra sua própria escuridão espiritual. Essa luta acontece conscientemente, já com o boi enlaçado – a mente inconsciente e indisciplinada procura a energia do sopro de Deus para domá-lo. De tal modo a luta do pastor com o touro bravo, o cristão se depara com a mente inconsciente e indisciplinada diante de Deus e deve continuar persistentemente em sua presença. A dificuldade dos primeiros passos do roteiro é indispensável e aceitável. Para avançarmos, não devemos nos distrair. “Sem sofrimento, e sem nenhum ganho!” Neste ponto, no entanto, o praticante não elimina as emoções negativas ou pensamentos que lhe dão ânimo, ele ou ela deve percorrer o “caminho do meio” em vez de um ascetismo excessivo. O Budismo ensina que para cada aspecto da vida, a maneira adequada da mente se unificar entre extremos, é a senda do caminho do meio.


do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das "Dez gravuras do touro e o pastor."


Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.

2. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS



"Com a ajuda dos ensinamentos e inquirindo sobre as doutrinas, ganha-se alguma compreensão: as pegadas foram encontradas.
Agora sabe que os recipientes, embora variados, são todos de ouro e que o mundo objetivo é um reflexo do Eu.
Entretanto, é incapaz de distinguir o que é correto e incorreto. Sua mente ainda confunde a verdade e a falsidade.
Como ainda não adentrou o portal, dizemos, provisoriamente, que viu as pegadas."

trad. Monja Coen

2. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" de mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que levam ao despertar da consciência.


Através da segunda gravura, os cristãos podem instruir-se no caminho contemplativo fundamental. Assim como o pastor se depara com os rastros das pegadas do touro, os cristãos também têm de procurar os rastros mais profundos de Deus em si mesmo, aliado ao estudo das escrituras, da tradição, e da prática meditativa. Na vida cristã contemplativa, as escrituras são ferramentas úteis para atravessar o portal do reino de Deus. Entretanto, não podemos conhecer perfeitamente a Deus somente através das escrituras ou de doutrinas. Temos que perceber que não podemos compreender a verdade como um fim para a qual nada pode ser acrescentado, e que esta “não-compreensão” da verdade é o caminho para o desenvolvimento espiritual. Esta percepção relativa ao "não-saber", conduz o praticante à uma consciência elevada. Uma vez que a vida contemplativa pode não ser um processo de conhecimento intelectual, mas um processo de "não-saber" (vide A noite escura de São João da Cruz). A união com Deus por meio de experiências contemplativas é um processo inacabável, muito além da compreensão racional. Através da meditação os cristãos têm a percepção de que Deus se faz presente em todo lugar. Com essa consciência, o segundo passo do contemplativo é encontrar Deus em seu interior.

do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das Dez gravuras do touro e o pastor."


Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.

1. GRAVURA - AS DEZ GRAVURAS DE DOMAR O TOURO DE KAKUAN PARA CRISTÃOS


O touro nunca se perdeu.
Qual o sentido de o procurar?
Afastando-se do seu próprio despertar, acaba emaranhado.
Perde a intimidade consigo mesmo ao encobrir sua natureza própria.
Sua casa fica mais e mais distante. As estradas laterais e as encruzilhadas se confudem.
Desejo por ganho e medo de perda queimam como fogo.
Ideias de certo e errado disparam como flechas.

trad. Monja Coen


1. gravura do Jugyuzu - "As dez gravuras de domar o touro" do mestre Kakuan Shion Zenji. As dez gravuras representam os degraus que  levam ao despertar da consciência.

Na primeira gravura, os cristãos iniciam a prática espiritual, em busca do “eu” original, para assim se unificarem a Cristo. O pastor ou monge pode ser comparado com o filho pródigo em Lucas 15:17: "Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti." 

O pastor, como o filho pródigo, está chocado ao descobrir que está perdido. O que ele busca, é o caminho de volta para a casa de seu Pai (a origem de tudo), na linguagem de Jesus, “O Reino de Deus. O lar do cristão está nele (Lucas 17:): "Disse o pai: Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu", assim como o pastor e o filho pródigo, todos os cristãos são convidados a percorrer o caminho rumo ao “Reino de Deus”, ao “eu” original. 

Os cristãos contemporâneos se desviaram do caminho devido ao materialismo. Thomas Merton argumenta que "a contemplação é tanto um dom, graça, como uma arte". Infelizmente, essa arte foi deixada de lado. Precisamos de disciplina, e a série das dez gravuras fornecem tais instrumentos. Recebamos e pratiquemos com profunda gratidão este dom de nossos irmãos e irmãs do Zen.

Para ilustrar esse conceito, o pastor é chamado a iniciar sua jornada espiritual se unindo ao touro. O touro e o pastor são na verdade um só, mas à primeira vista podem parecer que estão separados. Os cristãos e Cristo são na realidade um, mas a principio também podem estar separados, e o praticante se une a Cristo através da meditação e oração. Procurar o touro,  é o movimento de retorno a Cristo em busca da identidade original que foi perdida dentro dessa cultura materialista.

do artigo: "Aprendizagem de uma vida cristã contemplativa através das "Dez gravuras do touro e o pastor."



Jaechan Anselmo, entrou para a abadia beneditina em Waegwan na Coréia do Sul em 1991. Depois de sua ordenação sacerdotal em 2001, foi diretor de vocações e dirigiu o programa de experiência monástica para a juventude. Atualmente pesquisa a obra de Thomas Merton e o diálogo monástico inter-religioso. Em 2006, publicou o livro, “Ação e Contemplação ” como entendido no Salmo 131.

domingo, 21 de maio de 2017

GASAN JOSEKI E O SERMÃO DA MONTANHA



“Um dos discípulos do mestre Gasan Joseki visitou a universidade de Tokyo. Quando ele retornou, perguntou ao mestre se ele já tinha lido a Bíblia Cristã. - Não - Gasan respondeu - Por favor leia algo dela para mim. O monge abriu a Bíblia no Sermão da Montanha, evangelho de São Mateus, e começou a ler. “E por que andais preocupados quanto ao que vestir? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem...”. Após a leitura das palavras de Cristo sobre os lírios no campo, ele parou. Mestre Gasan ficou em silêncio por muito tempo. - Quem quer que proferiu estas palavras é um ser iluminado. É excelente. Quem disse isso não está longe da Budeidade. O que você leu para mim é a essência de tudo o que eu tenho tentado ensinar a vocês aqui. 

Conto Zen

Ainda que seja fato, o cristianismo ainda não tinha sido introduzido no Japão até a morte de Gasan, esta história é duvidosa. Outra explicação é outra história que está em “Zen Flesh, Zen Bones” é citado "Gasan", mas seria “Gisan Zenkai” outro ancestral, esse do século XIX. Diferentes edições de "Zen Flesh, Zen Bones" mostram a confusão entre Gisan/Gasan, um mestre do século retrasado tornaria a história mais aceitável.

Gasan Jōseki, foi um mestre Zen da linhagem Soto japonês. Ele era um discípulo de Keizan Jokin, e teve como discípulo Bassui Tokushō entre outros. Gasan começou seus estudos budistas dentro da escola Tendai, depois de uma reunião com Keizan em Kyoto, se juntou a ele no mosteiro de Daijo-ji, onde se tornou um dos seus principais discípulos. Anos mais tarde foi o segundo abade de Sôji-ji, dirigiu durante um período de quarenta anos, e foi brevemente o quarto abade de Yôkôji. Gasan foi o primeiro mestre no Japão a estudar o sistema dialético dos "Cinco Graus" (jap. Go-i ) do mestre chinês Dongshan Liangjie, fundador e homônimo da escola Soto.

CARL HOOPER - KOANS PARALELOS




Basho Osho disse aos seus discípulos, “se tens um bastão, te darei um; se não tens, tirarei o que possuis”. Jesus disse aos seus discípulos: "porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado: Mateus 25:29". Basho abriu os olhos dos seus discípulos para o mistério do Tao (caminho) que aguenta os céus e sustenta toda a Terra. Jesus revelou os mistérios do reino dos céus.  Basho instruiu seus discípulos com  um koan que não se esgota. Jesus falou para as multidões em parábolas, mas não para seus discípulos. Isto porque as multidões têm olhos, mas não veem, ouvidos, mas não ouvem. Os discípulos, entretanto, têm seus olhos e ouvidos abertos aos mistérios que seu mestre revelava. Basho treinou seus discípulos para que abrissem seus olhos e ouvidos para a expansão do Tao (caminho) misterioso.



    
Carl Hooper ao lado esquerdo de Ama Samy Roshi

Carl Hooper, é o fundador e sensei do “Bodhimount Zendo”. Começou seu treinamento com o Mestre Zen Ama Samy em 1988 na Austrália. No final do ano de 2013, Ama Samy Roshi o reconheceu como um professor autêntico da linhagem. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Sydney, também é doutor pela Universidade da Nova Inglaterra. O título de sua dissertação de doutorado é “Kōans: as Investigações Filosóficas do Zen”.

TAISEN DESHIMARU - 14. PERGUNTA

Pergunta

O que significa Céu e Inferno?

Resposta

Leia Dante, ou a Bíblia Cristã. É o mesmo para o Budismo. Mas eu retorno a pergunta de volta para você, porque eu não posso resolver. No Zen devemos criar o céu aqui e agora, não o inferno. Somos nós que fazemos céu ou inferno em nossa mente. Quando eu era criança, minha mãe costumava dizer: "Se você é mau, vai para o inferno, se você é bom, vai para o céu". Então, eu ficava com medo, mas quando cresci, eu disse a mim mesmo: "Eu vou para o inferno, as pessoas devem ter mais liberdade lá, serei então amigo do diabo", ou "vou para o céu com Buda”, tive sempre muitas discussões com minha mãe e não tive liberdade alguma. Quando eu tinha uns quinze ou dezesseis anos, sempre discutia com minha mãe e eu não tinha absolutamente nenhum desejo de ir para o céu. Mais tarde, perguntei ao meu mestre Kodo Sawaki sobre isso. Naquela época eu era estudante e, por ter estudado ciência e lógica, já não acreditava em nenhum dos dois lugares. Kodo Sawaki me ensinou que o céu e o inferno se desenvolve em nossa mente. Não podemos decidir se existem ou não. Ninguém voltou de lá. Uma vez que a pessoa vai para o seu caixão ela não volta para nos dizer. Mas aqui e agora, é a nossa mente que faz o inferno e o céu. Mestre Dogen escreveu profundamente sobre esse assunto. Devemos criar o céu aqui e agora. Se sofremos, se duvidamos, tudo pode se transformar num inferno. Devemos erguer o céu. Se a nossa mente está em paz, a atmosfera em torno de nós se tornará o céu. Em vez disso, algumas pessoas criam o diabo e o inferno!



cap. - Zen e Cristianismo

do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"

sábado, 20 de maio de 2017

TAISEN DESHIMARU - 13.PERGUNTA


Pergunta

O princípio da reencarnação fornece uma resposta a muitas das nossas perguntas. Mas o Budismo e o Hinduísmo não concordam com este assunto?

 Resposta

É verdade que o Budismo foi influenciado até certo ponto pela antiga tradição indiana. Mas o próprio Buda não estava tão interessado nela. Você muda sua encarnação: essa é a resposta do Budismo. No Zen, não há reencarnação, por exemplo, um gato se transformando num ser humano ou vice-versa. Essa é uma teoria da tradição indiana, e não é muito importante, mesmo que tenha influenciado o Budismo Mahayana. A alma permanece após a morte? É uma charada para a mente. De acordo com a fisiologia moderna, o cérebro e suas células continuam a viver por dois ou três dias - talvez, em algumas pessoas mortas, a consciência não está completamente morta. O último estado de consciência é muito importante. Você continua nesse estado de consciência. Qual será seu último pensamento? Se você está acostumado a praticar Zazen sua última respiração será a de uma consciência normal - sem consciência. Em tempos passados, quando a fisiologia não era tão desenvolvida, a imaginação desempenhou um papel importante na obra de filósofos e figuras religiosas: a reencarnação, a ressurreição de Cristo. No Cristianismo, existe a escatologia, a crença sobre o último dia do mundo que ainda não chegou. Porém, na morte de cada indivíduo, o mundo acaba e se comunica com a eternidade.



cap. - Zen e Cristianismo

do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"

TAISEN DESHIMARU - 12. PERGUNTA

Pergunta

Eu acredito que a meditação Zen leva a um conhecimento mais profundo do eu, mas não acredito que o próprio cosmos tenha uma consciência específica.

Resposta

É impossível experimentá-lo racionalmente. É por isso que os mestres usam parábolas, poemas e pinturas. Na filosofia chinesa, a terra e "eu" têm a mesma raiz. Se continuamos dizendo "Deus, Deus, Deus" hoje em dia, as pessoas não entendem o que estamos falando e não acreditam. No Budismo, é o mesmo com Buda. Mas onde está Deus? Nós não podemos ver. O sistema cósmico, a consciência cósmica: é o que podemos atingir. Ela existe fisicamente, é pura energia. Hoje a ciência está tentando descobrir o que é a energia cósmica. Recebemos energia em nós, ao respirarmos, nos alimentos, através da nossa pele. Mas isso não é tudo. Nós também temos um ego, uma consciência pessoal, e essa consciência também recebemos energia do cosmos. Os fisiologistas estudaram a questão e confirmaram isso. Se nossa consciência individual, nosso ego, for forte demais, não recebe energia. É por isso que devemos abandonar a nossa consciência para receber a Deus. Se voltamos para nós, com concentração, nos tornamos receptivos. Durante o Zazen, no andamento de um sesshin, a consciência individual é purificada pela meditação e os neurônios com calma vão aumentando. Então podemos receber essa energia cósmica em sua totalidade.




cap. - Zen e Cristianismo
do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"

TAISEN DESHIMARU - 11.PERGUNTA


Pergunta

Talvez o que está por trás de minha hesitação é a expressão "consciência cósmica". Teilhard de Chardin fala sobre Deus no "sentido cósmico"; Quando nos aprofundamos em nós mesmos sentimos que pertencemos ao cosmos. Não é atribuir essa mesma consciência ao próprio cosmo?

Resposta


A consciência coincide com a vida. Médicos japoneses dizem: "Tudo tem uma consciência, tudo é consciência”. Mesmo as plantas têm consciência; Se você esticar seu braço para arrancar uma flor da sua haste, ela encolhe. A ciência está fazendo pesquisas neste campo. Cada existência tem sua consciência. Internamente as coisas são difíceis de explicar, e é por isso que dizemos "Deus". Eu estou muito preocupado com a questão agora, porque no Zen devemos sempre encontrar uma explicação realista. Então às vezes o Zen nega Buda. O sistema cósmico, o que é a verdade cósmica? Por fim, dizemos "Deus" ou "Buda". Essa é a conclusão. Se as pessoas acreditam em Deus ou em Buda, o nível de sua compreensão é mais profundo. Mas não devemos criar categorias, e assim tento explicar tanto cientificamente quanto às vezes poeticamente. Não crie categorias. Se você fizer, esse não é o verdadeiro Deus, e o verdadeiro Buda. Eu digo que a nossa consciência é mais rápida que o cosmos. Isso significa que Deus é maior que o cosmos. No Budismo, “ku”, o vazio, é maior que o cosmos.


cap. - Zen e Cristianismo
do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"

TAISEN DESHIMARU - 10. PERGUNTA

Pergunta

Um monge Zen uma vez me disse: "No Zen, quando você alcança o Satori, pode-se dizer: 'Virei Deus!' "Isso pode ser interpretado como o que São Paulo disse:" Não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim"?

Resposta


Zazen é a mesma coisa que Deus ou Buda. Dogen, o mestre da transmissão, disse: "Zazen em si mesmo é Deus". Por isso ele quis dizer que durante o Zazen você está em harmonia com o cosmos. Na consciência “hishiryo*” não há mais nada. É a consciência de Satori. O “eu” caiu e se dissolveu. É a consciência de Deus. É Deus. Nós não estamos separados. Não há dualidade entre Deus, Buda e nós mesmos. Se eu disser: "Eu sou Deus ou Buda, é, ser um pouco louco é importante”. Pensar racionalmente sobre Deus ou Buda não é bom. Se eu disser que você é Deus ou Buda enquanto você pratica Zazen não é de todo a mesma coisa como se diz de si mesmo. No Zen, você não deve ter objetivo. Na consciência “hishiryo” o eu universal, por mais iluminado que seja, ainda está aqui. Meister Eckhart disse: "Se você se esvazia, Deus entra em você”. No Zen, o ego entra em Deus e Deus entra no ego. Ambos.

*Hishiryo é pensar sem pensar, não pensar, mas pensar. É o além do pensamento, o pensamento absoluto. Não pensamos, mas o inconsciente se eleva, e pensamos inconscientemente, a partir do tálamo, do cérebro central. O verdadeiro pensamento aparece, o pensamento sem pensamento, para lá de todo pensamento. Querer cortar os desejos, as ilusões é impossível, a nossa vontade, por si só, é impotente. Por intermédio do zazen, todavia, os desejos, pouco a pouco, deixam de perturbar-nos, diminuem por si mesmos, inconscientemente, naturalmente. Não se deve tentar nem cortá-los, nem segui-los. Nem cortar, nem seguir: isso é Hishiryo.


cap. - Zen e Cristianismo
do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"

TAISEN DESHIMARU - 9. PERGUNTA




Pergunta

São Paulo disse que toda a criação está sofrendo e esperando a redenção. O que isso significa do ponto de vista da compaixão?

Resposta


O Budismo Tibetano sempre fala da compaixão, contudo a sabedoria é necessária. Um sem o outro não pode ser verdadeiro. Você deve saber como unir compaixão e sabedoria. Um pai e uma mãe precisam de compaixão para educar seu filho, de sabedoria também, para educar com gentileza e ternura. Eu gosto do exemplo da pipa: para fazê-la voar corretamente você não deve brecá-la bruscamente, não deve também deixá-la folgada, o equilíbrio é importante. A compaixão de Buda é para todas as pessoas, sem distinção entre ricos e pobres. Não tem a ver com resolver problemas políticos e guerras. A religião salva as pessoas num plano mais elevado. O problema é mudar a mente das pessoas. O que eu estou falando não é político é revolucionário, mas uma revolução dentro de nossa própria mente. Se as pessoas não se voltam para dentro pode mudar nada. A crise da nossa civilização é causada pelo fato de que a maioria das mentes não estão normais. Se a mente muda, muda a civilização. Transformar as mentes poderia resolver o problema da escassez do petróleo. As pessoas participariam de “sesshins” em vez de assistir televisão. O seu comportamento pode influenciar no comportamento das outras pessoas.

cap. - Zen e Cristianismo
do livro: "Perguntas e Respostas a um Mestre Zen: Taisen Deshimaru"