sábado, 24 de fevereiro de 2018

PE. RICHARD ROHR OFM - JESUS E BUDA


Em seu livro, Jesus e Buda, o teólogo Marcus Borg (1942-2015) destaca numerosos ensinamentos de Jesus que são surpreendentemente semelhantes, aos ensinamentos do Buda, que viveu cerca de seis séculos antes de Cristo. Houve algumas tentativas de explicar essas semelhanças através do processo histórico, que é uma possibilidade distante. Borg sugere uma observação mais significativa: que Jesus e Buda trilharam a mesma meta e caminho espiritual, eu diria que o Espírito Santo que guiou toda a história. A Cabala judaica, o Sufismo muçulmano e os ensinamentos do Tao também revelam um mapa para a consciência de não dualismo.

Deixe-me apenas compartilhar apenas alguns dos ensinamentos comparativos que Borg recolheu em seu livro, e você verá como eles vem de uma mesma perspectiva não-dual:

Jesus diz: "E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também" (Lucas 6:31). Buda diz: "Considere os outros como você mesmo". (Dhammapada 10.1).

Jesus diz:"Se alguém lhe bater numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém lhe tirar a capa, não o impeça de tirar-lhe a túnica", (Lucas 6:29). O Buda diz: "Se alguém golpeá-lo com a mão, com pedras, com um pau ou com uma faca, você deve abandonar todos os desejos e pensamentos que tomem por base a vida em família. E assim é como você deveria treinar: ‘Minha mente não será afetada e eu não direi palavras ruins; eu permanecerei compassivo pelo bem-estar dele, com a mente plena de amor bondade, sem raiva", (Majjhima Nikaya 21.6).

Jesus diz: "Ele responderá: Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo", (Mateus 25:45). Buda diz: ""Se você não se cuida, então quem cuidará de você? Quem quer que me cuide, deveria cuidar dos doentes", (Vinaya, Mahavagga 8.26.3).

Jesus e Buda diagnosticaram o dilema humano da mesma maneira. Nosso sofrimento baseia-se principalmente na ignorância. A grande maioria da humanidade está cega sobre quem somos e para onde vamos. Jesus e Buda falaram sobre ansiedade, apego e autocentramento.

Infelizmente, o cristianismo se preocupou tanto com a certeza de que todos deveriam acreditar que Jesus era Deus, que ignorou em grande parte seus ensinamentos sobre desapego, simplicidade, não-violência e ansiedade. Nossos irmãos e irmãs budistas podem nos ajudar a lembrar estes ensinamentos no centro da nossa fé. Eles podem nos ajudar a ser cristãos melhores e mais verdadeiros. E podemos ajudá-los, ou pelo menos dar-lhes muito poucos motivos para não gostar de nós! Por que não tentar esse novo plano?

Em muitos níveis, Jesus e Buda falaram sobre a mesma experiência, a de transformação. A finalidade de toda espiritualidade é se  transformar, morrer antes de morrer e renascer como verdadeiros seres compassivos.

Caminho da porta para o silêncio: Nós já somos um.

Sexta-feira, 8 de dezembro de 2017 (dia de iluminação de Buda)


Richard Rohr OFM, (1943) é um frade franciscano americano. Ele entrou na Ordem Franciscana em 1961 e foi ordenado sacerdote em 1970. Fez o mestrado em Teologia na Universidade de Dayton em 1970. Fundou a "Comunidade Nova Jerusalém" em Cincinnati, Ohio. Em 1971 fundou o "Centro de Ação e Contemplação" (CAC) em Albuquerque, no Novo México. Atualmente atua como Diretor Fundador e Decano Acadêmico da "Living School for Action and Contemplation". Pe. Richard é autor de numerosos livros, incluindo Everything Belongs, Adam's Return, The Naked Now, Immortal Diamond e Ansioso para amar: o Caminho alternativo de Francisco de Assis. 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

PE. RICHARD ROHR OFM - UM PONTO NO VAZIO



Hoje, continuamos com o relato de Thomas Merton sobre o "Verdadeiro Eu" que resultou na sua "conversão" em Fourth e Walnut. Isto é tão inspirador, que quero citar todo o texto: "No centro do nosso ser tem um ponto vazio que é intocado pelos pecados e pelas ilusões, um ponto de pura realidade, uma centelha que pertence integralmente a Deus, e que não está ao nosso alcance, que é inacessível às fantasias de nossa própria mente ou às brutalidades dos nossos próprios desejos." 

Este pequeno ponto no vazio é o absoluto, a simplicidade, a pura glória de Deus em nós. Seria como o nome de [Deus] pincelado em nós, com nossa humildade, nossa pobreza, nossa segurança, com nossos filhos.

É como um puro diamante, ardendo na luz translúcida do céu. Está em todos, e se pudéssemos vê-lo, veríamos isso: bilhões de pontos luminosos se misturando diante da face escaldante do sol, e isso faria desaparecer por completo a escuridão e a crueldade do mundo.

Não tem nenhum programa de computador para visualizar isto. É apenas a realização. Mas o portão do paraíso está em todo lugar. A maioria das pessoas passa a vida toda alimentando seus falsos "eus", suas auto-imagens, acreditam serem isto, ao invés de acessarem o "eu" original, que seria ótimo aos olhos de Deus. 

Mas tudo o que podemos "retribuir" à Deus, para os outros e também para mim é ser quem realmente somos. Isto é o que Merton descreve acima. É um espaço de simplicidade absoluta. Talvez não queremos retornar porque é demasiado simples e espontâneo. Nos sentiríamos perdidos. Sem motivos para festejar. Sem nada para demonstrar, muito menos superioridade. Ali estou nu e pobre. Depois de anos de postura e prática, se sentindo vazio.

Mas quando não somos especiais, estamos em uma boa posição para receber tudo de Deus. Como Merton diz acima, nosso ponto vazio é "a pura glória de Deus em nós". Se olharmos para as grandes tradições religiosas, vemos que todos usam palavras diferentes para apontar na mesma direção. A palavra franciscana é "pobreza". A palavra carmelita é "não-existência". Os budistas falam do "vazio".

Em sua bem-aventurança, Jesus fala de ser "pobre em espírito". A Bíblia como um todo, prefere falar em imagens, e o deserto é fundamento. O deserto é onde somos voluntariamente testados; Jesus diz para entrar no "quarto interior". 

Eu devo estar "vazio" para se abrir a toda e nova realidade. O reservatório de solitude e contemplação de Merton permitiu que ele visse o portão do paraíso em todos os lugares, mesmo numa esquina comum. Um mestre Zen chamaria o "Eu Verdadeiro" de "o rosto que tínhamos antes de nascermos". Paulo chama isso de "a vossa vida escondida com Cristo em Deus." (Colossenses 3:3) 

Isto é, quem você era antes de ter feito tudo certinho ou algo errado, quem você era antes de pensar sobre quem você é. Os pensamentos criam o falso-eu, o ego, o eu-inseguro. A mente contemplativa concebida por Deus, por outro lado, reconhece o eu-Deus, o eu-Cristo, o verdadeiro eu de abundância e de profunda estabilidade interior. Começamos com uma mera observação, nos identificando.

Caminho da porta para o silêncio:
Você mora em mim; Eu vivo em você.

Sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Richard Rohr OFM, (1943) é um frade franciscano americano. Ele entrou na Ordem Franciscana em 1961 e foi ordenado sacerdote em 1970. Fez o mestrado em Teologia na Universidade de Dayton em 1970. Fundou a "Comunidade Nova Jerusalém" em Cincinnati, Ohio. Em 1971 fundou o "Centro de Ação e Contemplação" (CAC) em Albuquerque, no Novo México. Atualmente atua como Diretor Fundador e Decano Acadêmico da "Living School for Action and Contemplation". Pe. Richard é autor de numerosos livros, incluindo Everything Belongs, Adam's Return, The Naked Now, Immortal Diamond e Ansioso para amar: o Caminho alternativo de Francisco de Assis. 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

EIDO SHIMANO ROSHI - GRATIDÃO

                        David Steindl-Rast e Eido Shimano

"As pessoas geralmente me perguntam como os budistas respondem a pergunta sobre a existência de "Deus". Outro dia eu estava andando pela margem de um rio. O vento soprava. De repente, pensei, Oh! O ar existe. Sabemos que o ar está lá, mas, a menos que o vento não sopre contra o nosso rosto, não ficamos cientes disso. O vento está aqui. E o sol também. De repente, percebi o sol, brilhando entre as árvores. O seu calor, o seu brilho e tudo isso de forma gratuita, completamente grátis. Simplesmente para nós desfrutarmos. E sem me dar conta, espontaneamente, uni minhas duas mãos palma com palma e percebi que estava fazendo gasshô. E ocorreu-me que isso é tudo o que importa: que podemos nos curvar, tornar-se um arco largo. Apenas isso. Só isso."


Eido Tai Shimano (1932 - 2018) foi um roshi da tradição Rinzai. Foi o abade fundador do New York Zendo Shobo-Ji em Manhattan e o mosteiro Dai Bosatsu Zendo Kongo-Ji nas montanhas Catskill de Nova York.