segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

MESTRE TOKUDA, SÃO JOÃO DA CRUZ, ECKHART em 'O ZEN NO BRASIL'



(...) a influência  de Suzuki foi ainda mais profunda: Tokuda (Igarashi) também era fascinado pelos místicos cristãos. Assim, ele entendia que o estado de êxtase mencionado por São João da Cruz e Mestre Eckhart como sendo experiência de iluminação Zen. Tokuda não via diferença entre Ocidente e Oriente em relação a esse estado de êxtase e via a experiência cristã da união com Deus como a mesma do satori (iluminação). De fato, Tokuda escreveu, em seu livro, Psicologia Budista (1997, p.60): "Como disse São João da Cruz: a noite dos sentidos, a noite do espirito, a noite da alma. Através desta viagem interna começamos a nos afastar do mundo exterior e começamos a trabalhar o nosso mundo interior, mergulhando dentro da nossa subconsciência, da inconsciência. Quando chegar ao fundo dessa escuridão, há aquela união com Deus, com o Amor. Para que essa experiência, a escola Zen tem uma palavra: a iluminação, o satori" A interpretação de Tokuda parece ser decorrente diretamente da proposta de Suzuki de equiparar os misticismos cristão e Zen e, assim, responder ao desafio do discurso de superioridade cristã ocidental. Para Suzuki, como o Zen era livre de tradições religiosas, culturais, e filosóficas, tanto budistas quanto os cristãos poderiam praticá-lo. De fato Suzuki afirma "Eckhart, e o Zen... podem ser colocados juntos como pertencendo a grande escola do misticismo" e "tenho certeza de que Eckhart teve um satori" Suzuki, apud FAURE, 1993, P. 61-64)

pág 69, cap.1 - A conexão Brasil-Japão: organizando as missões Zen; Kaikyôshi trabalhando com não descendentes. 

"O ZEN NO BRASIL: EM BUSCA DA MODERNIDADE COSMOPOLITA"

Cristina Rocha, é professora associada do "ARC Future Fellow at the Religion and Society Research Centre". Ela é editora do "Journal of Global Buddhism" e da série de livros Religião nas Américas. Suas áreas de pesquisa são: globalização, religião, transnacionalismo e negociações interculturais, com especial interesse no trânsito cultural entre o Japão, Brasil e Austrália. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

HUGO ENOMIYA LASSALLE SJ - ZEN E FÉ CRISTÃ


Enomiya-Lassalle pratica zazen desde 1943, e está dando cursos regulares na Europa desde o encontro “Oriente-Ocidente com Elmaul R.F.” na Alemanha em 1967. O Zen é um caminho meditativo cuja antiga origem está na Índia. Lassalle tem sido um discípulo do famoso mestre zen japonês Harada, que uniu as duas correntes clássicas "Soto" e "Rinzai", criando uma nova forma, que até agora é transmitida. Padre Lassalle insiste de forma especial na atitude interna, sem a qual a abertura para os níveis mais profundos de consciência não é possível. Enquanto isso, alguns mestres Zen ocidentais foram treinados seguindo o exemplo de Lassalle. As avaliações e o reconhecimento como “senseis” são extremamente difíceis, entre outras questões, porque você tem que solucionar cerca de cem koans. O reconhecimento completo como professor Zen é reservado para poucos. O professor não é para seus discípulos nenhum professor, mas sim o próprio "Buda". Enomiya-Lassalle teve as primeiras dificuldades com as instâncias do Vaticano quando publicou seu livro "Zen em sua própria identidade". O livro não tinha sido aprovado até o Concílio Vaticano II, que abriu as janelas para o Oriente. Enomiya-Lassalle sempre seguiu seu caminho sem hesitação, firmemente convencido, e levou um número considerável de discípulos ao objetivo real, que é a experiência da iluminação.

O que só era possível no caso de pessoas especiais, hoje pode se tornar uma realidade para muitos. A experiência da realidade absoluta leva à plena unidade, transformando a vida e a morte em uma e mesma coisa, não experimentadas como realidades separadas. Um monge perguntou ao famoso mestre Zen chinês Joshu, à época da dinastia Tang (778-897): "O que é a iluminação?" Joshu respondeu: "Sou surdo". O monge repetiu a pergunta. Joshu disse: "Eu não sou surdo, como você sabe". Então Joshu compôs um poema: “aquele que se move livremente na grande estrada percebe o portal da iluminação”. "Apenas sente-se", e o espírito não conhecerá fronteiras. Todos os anos, primavera, e primavera novamente.

O que é o Zen?

A origem da palavra Zen vem do sânscrito 'dhyana' que significa 'meditação'. Os chineses começaram a pronunciar ‘Chan’, e a escrever com um ideograma que eles já usavam no Taoísmo. O ideograma é composto pelos elementos 'deus' e 'um', e significa, portanto, 'unidade com Deus'. Com o tempo, a palavra Zen foi adquirindo um significado mais amplo e hoje abarca tudo o que tem alguma relação com essa forma de meditação. Para este conjunto também pertence, por exemplo, a famosa cerimônia do chá, bem como a arte do tiro com arco, chamado kyodo (caminho do arco). Também a esgrima, o judô, o karatê, a caligrafia e o ikebana (o caminho das flores). Todos eles são para o Zen, não simples esportes ou artes, mas caminhos, caminhos espirituais. O espírito do Zen pulsa neles, isto é, eles são animados pela mesma atitude espiritual em relação à própria vida. Todos esses caminhos do Zen estão sendo conhecidos hoje em maior ou menor extensão no Ocidente, onde são praticados por mais e mais pessoas. Cada um deles tem suas próprias regras, seus significados e seus resultados especiais. Se deter-nos nos detalhes de cada um deles, nos levaria muito tempo. No entanto, o mais radical e eficaz de todos esses caminhos sempre foi e ainda é o Zazen.

A origem do zazen

No século VI a.c. Buda adotou a postura de lótus, postura clássica de meditação iogue na Ásia, usada no zazen. No entanto, é considerada essencial para o seu fundador: Bodidarma, um monge indiano, que, segundo a tradição, foi para o Sul da China em 526 d.c, cerca de mil anos depois de Buda. Ele fundou na China uma escola de meditação, na qual ao longo do tempo resultou no que hoje é a meditação Zen. Bodidarma legou o método prático de meditação que é usado nas correntes budistas a que fundou, e denominou Mahayana (em outras divisões budistas, estendendo-se, por exemplo, ao Ceilão, Birmânia e Tailândia, havia formas diferentes de budismo, portanto, o zazen não pertence a estas tradições).  Mais tarde, aos ensinamentos e a meditação de Bodidarma foram incorporados elementos de várias correntes filosóficas chinesas, especialmente o Taoísmo, com o qual o zazen tem uma relação muito próxima. Falar dos detalhes do desenvolvimento do Zen na China nos levaria tempo para nosso propósito, também não seria necessário. Além disso, uma vez que a fusão com o espírito chinês havia sido consumado, o Zen já não passava por mudanças essenciais. O Zen chegou no Japão pela Coréia. Isso aconteceu entre os séculos VII e XI. Mas, mesmo depois de ter sido introduzido no Japão, os discípulos Zen japoneses por séculos seguintes iam à China aprender com os grandes mestres chineses. Quase todos os koans, (certas charadas apresentadas para os discípulos que serão discutidos abaixo) recorrem aos antigos mestres chineses, ou seja, remonta cerca de mil anos atrás. Este breve resumo da história do Zen torna compreensível que exista hoje, como em outros tempos, diferentes interpretações, práticas e exercícios. Deve ser citado principalmente duas escolas que se destacaram no século XII, momento culminante da entrada do Zen no Japão, e que agora estão claramente diferenciadas entre duas escolas: "Soto" e "Rinzai". Vamos tentar apontar, no momento, as diferenças mais importantes em termos de interpretações e práticas.

Prática e exercício do Zazen 1985/86.

do livro; “Viver na nova consciência”.



Pe. Hugo Enomiya-Lasalle, nasceu na Alemanha em 1898, se dedicou à atividade missionária no Japão desde 1929, interessou-se pelas práticas budistas locais, abraçando a prática meditativa do Zen. Ordenado como jesuíta tornou-se vigário de Hiroshima e em 6 de Agosto de 1945 foi gravemente ferido no ataque atômico sobre a cidade. por um curto período de tempo retornou à Alemanha. Em 1956, Enomiya-Lassalle começou a estudar o Zen com Harada Daiun Sogaku. Em 1958 publicaria Zen: Caminho para a iluminação, no entanto a Santa Sé o proibiu de continuar publicando sobre o assunto. Em fins da década de 1960, Enomiya-Lasalle ganhou autorização como professor na linhagem Sanbo Kyodan de Yamada e recebeu o título de Roshi, ao mesmo tempo que mantinha sua crença cristã. Depois de 1968, Enomiya-Lassalle passou muito de seu tempo na Europa promovendo retiros zen e incentivando a prática do zazen entre cristãos.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

TILDEN H. EDWARDS - CRUZANDO A PONTE CRISTÃ-BUDISTA


artigo retirado do livro "Reflexões sobre a mente - O encontro da Psicologia Ocidental com o Budismo Tibetano" organizado por Tarthang Tulku Riponche.