Enomiya-Lassalle pratica zazen desde 1943, e está dando cursos regulares na Europa desde o encontro “Oriente-Ocidente com Elmaul R.F.” na Alemanha em 1967. O Zen é um caminho meditativo cuja antiga origem está na Índia. Lassalle tem sido um discípulo do famoso mestre zen japonês Harada, que uniu as duas correntes clássicas "Soto" e "Rinzai", criando uma nova forma, que até agora é transmitida. Padre Lassalle insiste de forma especial na atitude interna, sem a qual a abertura para os níveis mais profundos de consciência não é possível. Enquanto isso, alguns mestres Zen ocidentais foram treinados seguindo o exemplo de Lassalle. As avaliações e o reconhecimento como “senseis” são extremamente difíceis, entre outras questões, porque você tem que solucionar cerca de cem koans. O reconhecimento completo como professor Zen é reservado para poucos. O professor não é para seus discípulos nenhum professor, mas sim o próprio "Buda". Enomiya-Lassalle teve as primeiras dificuldades com as instâncias do Vaticano quando publicou seu livro "Zen em sua própria identidade". O livro não tinha sido aprovado até o Concílio Vaticano II, que abriu as janelas para o Oriente. Enomiya-Lassalle sempre seguiu seu caminho sem hesitação, firmemente convencido, e levou um número considerável de discípulos ao objetivo real, que é a experiência da iluminação.
O que só era possível no caso de pessoas especiais, hoje pode se tornar uma realidade para muitos. A experiência da realidade absoluta leva à plena unidade, transformando a vida e a morte em uma e mesma coisa, não experimentadas como realidades separadas. Um monge perguntou ao famoso mestre Zen chinês Joshu, à época da dinastia Tang (778-897): "O que é a iluminação?" Joshu respondeu: "Sou surdo". O monge repetiu a pergunta. Joshu disse: "Eu não sou surdo, como você sabe". Então Joshu compôs um poema: “aquele que se move livremente na grande estrada percebe o portal da iluminação”. "Apenas sente-se", e o espírito não conhecerá fronteiras. Todos os anos, primavera, e primavera novamente.
O que é o Zen?
A origem da palavra Zen vem do sânscrito 'dhyana' que significa 'meditação'. Os chineses começaram a pronunciar ‘Chan’, e a escrever
com um ideograma que eles já usavam no Taoísmo. O ideograma é composto pelos
elementos 'deus' e 'um', e significa, portanto, 'unidade com
Deus'. Com o tempo, a palavra Zen foi adquirindo um significado mais amplo e
hoje abarca tudo o que tem alguma relação com essa forma de meditação. Para
este conjunto também pertence, por exemplo, a famosa cerimônia do chá, bem como
a arte do tiro com arco, chamado kyodo (caminho do arco). Também a esgrima, o
judô, o karatê, a caligrafia e o ikebana (o caminho das flores). Todos eles são
para o Zen, não simples esportes ou artes, mas caminhos, caminhos espirituais.
O espírito do Zen pulsa neles, isto é, eles são animados pela mesma atitude
espiritual em relação à própria vida. Todos esses caminhos do Zen estão sendo
conhecidos hoje em maior ou menor extensão no Ocidente, onde são praticados por
mais e mais pessoas. Cada um deles tem suas próprias regras, seus significados
e seus resultados especiais. Se deter-nos nos detalhes de cada um deles, nos levaria
muito tempo. No entanto, o mais radical e eficaz de todos esses caminhos
sempre foi e ainda é o Zazen.
A origem do zazen
No século VI a.c. Buda adotou a
postura de lótus, postura clássica de meditação iogue na Ásia, usada no zazen.
No entanto, é considerada essencial para o seu fundador: Bodidarma, um monge indiano,
que, segundo a tradição, foi para o Sul da China em 526 d.c, cerca de mil anos
depois de Buda. Ele fundou na China uma escola de meditação, na qual ao longo
do tempo resultou no que hoje é a meditação Zen. Bodidarma legou o método prático
de meditação que é usado nas correntes budistas a que fundou, e denominou Mahayana
(em outras divisões budistas, estendendo-se, por exemplo, ao Ceilão, Birmânia e
Tailândia, havia formas diferentes de budismo, portanto, o zazen não pertence a
estas tradições). Mais tarde, aos ensinamentos e a meditação de Bodidarma
foram incorporados elementos de várias correntes filosóficas chinesas,
especialmente o Taoísmo, com o qual o zazen tem uma relação muito próxima. Falar dos detalhes
do desenvolvimento do Zen na China nos levaria tempo para nosso propósito,
também não seria necessário. Além disso, uma vez que a fusão com o espírito
chinês havia sido consumado, o Zen já não passava por mudanças essenciais. O Zen chegou no Japão pela Coréia. Isso aconteceu entre os séculos VII e XI. Mas, mesmo depois de ter sido
introduzido no Japão, os discípulos Zen japoneses por séculos seguintes
iam à China aprender com os grandes mestres chineses. Quase todos os koans,
(certas charadas apresentadas para os discípulos que serão discutidos abaixo) recorrem aos antigos mestres chineses, ou seja, remonta cerca de mil anos atrás. Este breve resumo da história do
Zen torna compreensível que exista hoje, como em outros tempos, diferentes
interpretações, práticas e exercícios. Deve ser citado principalmente
duas escolas que se destacaram no século XII, momento culminante da entrada do
Zen no Japão, e que agora estão claramente diferenciadas entre duas escolas: "Soto" e
"Rinzai". Vamos tentar apontar, no momento, as diferenças mais
importantes em termos de interpretações e práticas.
Prática e exercício do Zazen 1985/86.
do livro; “Viver na nova consciência”.
Pe. Hugo Enomiya-Lasalle, nasceu na Alemanha em 1898, se dedicou à atividade missionária no Japão desde 1929, interessou-se pelas práticas budistas locais, abraçando a prática meditativa do Zen. Ordenado como jesuíta tornou-se vigário de Hiroshima e em 6 de Agosto de 1945 foi gravemente ferido no ataque atômico sobre a cidade. por um curto período de tempo retornou à Alemanha. Em 1956, Enomiya-Lassalle começou a estudar o Zen com Harada Daiun Sogaku. Em 1958 publicaria Zen: Caminho para a iluminação, no entanto a Santa Sé o proibiu de continuar publicando sobre o assunto. Em fins da década de 1960, Enomiya-Lasalle ganhou autorização como professor na linhagem Sanbo Kyodan de Yamada e recebeu o título de Roshi, ao mesmo tempo que mantinha sua crença cristã. Depois de 1968, Enomiya-Lassalle passou muito de seu tempo na Europa promovendo retiros zen e incentivando a prática do zazen entre cristãos.