sexta-feira, 27 de abril de 2018

ANSELM GRUN OSB - A PERGUNTA A RESPEITO DA LIBERDADE



A segunda pergunta se refere à liberdade do homem. A humanidade anseia por ela e, ao mesmo tempo, teme-a. Deus é sempre o Deus que nos liberta. Quem vivencia Deus, experimenta a liberdade, torna-se livre da dependência, do julgamento e das expectativas dos outros. 

Para os primeiros cristãos, esta foi uma experiência essencial."Foi para a liberdade que Cristo nos libertou".(GI 5,1) - assim Paulo descreveu a constatação fundamental que obteve em seu encontro com Jesus Cristo. Mas esta liberdade interior dos místicos não significa que eles não observam regras. Muitos místicos e místicas vivem em comunidades. Eles seguem o caminho da liberdade interior, porém submetem-se às normas de sua respectiva comunidade, não precisam defender sua liberdade implacavelmente, desconsiderado as regras. Na verdade, eles vivem internamente livres de pensamentos e sentimentos, não perdem essa liberdade por estarem no claustro de uma comunidade monástica. Nos escritos de Teresa D´Ávila, por exemplo, percebi indícios dessa liberdade interior. Ela  escreveu sobre o que pensou e sentiu, confiou em seu próprio coração, não sentiu necessidade de comprovar seus pensamentos ou justificá-los por meio de argumentos teológicos, e teve a coragem de, sendo mulher, manifestar sua opinião quanto aos homens que, na época, comandavam a igreja e depreciavam as mulheres. Teve que conviver com a Inquisição, mas esta não pôde impedi-la de trazer à baila aquilo que sentia e considerava importante. Entretanto, ela não viveu uma liberdade no sentido absoluto; não se rebelou contra tudo, pelo contrário, viveu sua liberdade num contexto plenamente regular. Aquele que diz que sua liberdade só será autentica caso se revolte contra tudo e todos não percebe o quanto aprisionado ainda está. São Bento afirmou que o monge deve fazer apenas "o que dita o regulamento do claustro e seguir o exemplo dos mais velhos". E isto não é nenhum sinal de subserviência, e sim de liberdade. A experiencia mistica conduz a uma liberdade interior, que por nada pode ser desfeita, nem por normas nem pela estreiteza mental das pessoas obtusas.

Jesus nos mostra um caminho análogo: "Quando tiverdes feito tudo que vos foi mandado, dizei:' Somos escravos inúteis. Fazemos apenas o que tínhamos de fazer (LC 17.10). A verdadeira liberdade consiste em fazer o que nos cabe fazer no momento, o que pesa sobre nós mesmos e sobre o próximo. Não devemos nos sentir especiais, mas apenas fazer o que está na pauta, agir de acordo com o momento. Este ensinamento de Jesus também é encontrado em citações da tradição do Zen Budismo: apenas fazer o que é necessário no moimento e não se colocar acima de tudo. O mesmo podemos dizer em relação à sabedoria chinesa: o Tao - dizem os chineses - é o costumeiro; que, se entrega ao costumeiro sem tentar fazer-se importante ou colocar-se acima dos outros, este é verdadeiramente livre.

pág:18-21. do livro, Mística: descobrir o espaço interior.



Anselm Grün, faz parte da Ordem de São Bento. Nasceu em 14 de janeiro de 1945 em Junkershausen, Alemanha. Está sob a administração da Abadia de Münsterschwarzach. Procurado como palestrante e conselheiro na Alemanha e nos estrangeiro, tornou-se ícone da espiritualidade e mestre  em nossos dias. São mais de 100 livros traduzidos no Brasil, sendo 90 lançados pela Editora Vozes. Também ministra cursos e palestras, e faz aconselhamento espiritual.

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